O tema do meu trabalho ( Vera Siqueira) de conclusão do curso de Pós-Graduação em Revisão de Texto foi a análise do discurso religioso neopentecostal. Através da transcrição de discursos de lideranças evangélicas, foi feita a análise buscando extrair o que estava subentendido, com o fim de trazer esclarecimento sobre o que é dito para influenciar multidões.
Uma vez aprovado, transcrevo partes do trabalho para apreciação geral. Neste artigo, especificamente o capítulo 2. Boa leitura!
2 – Análise do discurso religioso de lideranças neopentecostais
2.1 – Definição de análise de discurso
O estudo da linguagem se divide em diferentes áreas, entre as quais a análise do discurso. Gregolin (1995)[1] observa a análise do discurso através de vários conceitos. Do ponto de vista histórico, temos desde os estudos da Retórica grega até a atual tentativa de linha francesa de construir uma “análise automática do discurso” através da informática. Entre esses dois extremos viu-se uma mudança do foco da Linguística da “frase” para a Linguística do “texto”, provocando transformações na então aceita ideia de que a “fala” é individual e não passível de análise científica. Ao assumir o texto como objeto de análise (e não apenas a frase), o estudo do “texto” ganhou destaque nos estudos linguísticos.
Charaudeau (2008, p.16-17) verifica duas atitudes em relação à linguagem. Na primeira, observa-se o ato da linguagem esgotando sua significação em si mesmo. Assim, se alguém diz: “abra a porta”, buscou significar nada além de “abra a porta”. Já na segunda atitude, admite-se que o ato da linguagem não esgota sua significação em si mesmo, significando algo além do seu próprio significado, contextualizando com a realidade social e histórica. Assim, nesse caso é necessária a interrogação sobre as diferentes leituras possíveis, pois o objeto de estudo passa a ser constituído por um explícito (o que é claramente manifestado) e um implícito (os sentidos múltiplos dependentes das circunstâncias da comunicação). E significação em Linguística pressupõe a Semântica.
Semântica, segundo Fiorin (2008, p. 13-16) é não simplesmente o “estudo do significado”. Ela necessita ser:
- Gerativa, ou seja, deve estabelecer modelos que apreendam os níveis de invariância crescente do sentido de tal forma que se perceba que diferentes elementos do nível de superfície podem significar a mesma coisa num nível mais profundo (por exemplo, a aprovação no vestibular e a Arca da Aliança, no filme Os caçadores da arca perdida, significam a mesma coisa num nível mais profundo, poder fazer: no primeiro caso, poder fazer um curso superior; no segundo, poder vencer os inimigos);
- Sintagmática, isto é, deve explicar não as unidades lexicais que entram na feitura das frases, mas a produção e a interpretação do discurso;
- Geral, ou seja, deve ter como postulado a unicidade do sentido, que pode ser manifestado por diferentes planos de expressão (por um de cada vez ou por vários deles ao mesmo tempo: por exemplo, o conteúdo /negação/ pode ser manifestado por um plano de expressão verbal “não” ou por um gesto como “repetidos movimentos horizontais da cabeça”; o conteúdo de uma telenovela é manifestado, ao mesmo tempo, por um plano de expressão verbal, por um visual, etc.). (FIORIN, 2008, p. 16)
Maingueneau (1989, p. 31-32) ressalta a importância da Pragmática na análise do discurso: “[…] a pragmática tende a enfatizar que ‘a tomada da palavra’ constitui um ato virtualmente violento que coloca outrem diante de um fato realizado e exige que este o reconheça como tal”. O autor esclarece que, num discurso, o locutor se concede um certo lugar, atribuindo um lugar complementar ao outro. Esse lugar complementar deve ser aceito pelo outro, que deve também reconhecer a autoridade do locutor para estar no lugar onde se colocou. Assim, a concepção pragmática se opõe à ideia da língua como simples instrumento de transmissão de informações.
Em relação à análise do discurso religioso, enquanto Orlandi (1987, p. 85) o insere em sua concepção de “discurso da autoridade” por seu caráter autoritário, ou seja, onde o locutor se sobrepõe ao outro através do discurso, Oliveira (1998, p. 22) enxerga que tal autoridade se dilui na medida em que os ouvintes procuram os locutores religiosos espontaneamente. Assim, segundo a autora, pode-se acatar ou não as determinações dos líderes religiosos, havendo muitas vezes um alheamento voluntário por parte do ouvinte por desconhecer o assunto (no caso deste estudo, os ensinos bíblicos).
Para Orlandi,
Partindo, então, da caracterização do discurso religioso como aquele que fala a voz de Deus, começaria por dizer que, no discurso religioso, há um desnivelamento fundamental na relação entre locutor e ouvinte: o locutor é do plano espiritual (o Sujeito, Deus) e o ouvinte é do plano temporal (os sujeitos, os homens). Isto é, locutor e ouvinte pertencem a duas ordens de mundo totalmente diferentes e afetadas por um valor hierárquico, por uma desigualdade em sua relação: o mundo espiritual domina o temporal. O locutor é Deus, logo, de acordo com a crença, imortal, eterno, infalível, infinito e todo-poderoso; os ouvintes são humanos, logo mortais, efêmeros, falíveis, finitos, dotados de poder relativo. Na desigualdade, Deus domina os homens. (ORLANDI, 1987, p. 243).
2.2 – Discurso para arrecadação de ofertas e dízimos

Verdadeiramente, um pai rico só poderá ter filhos ricos. Se você, […] não está vivendo como um abundante filho de Deus é porque ou está afastado das origens da sua verdadeira família, ou não quer se apossar da herança; entretanto, se você deseja viver a verdadeira vida que Deus tem preparado, comece hoje, agora mesmo, a cobrar aquilo que Ele tem prometido. (MACEDO apud GONÇALVES, 2013, p. 92)
Nesse discurso, o Bispo Edir Macedo (IURD) afirma aos fiéis que quem segue a Deus é considerado seu filho, e que como filhos de um pai rico (pois divino, todo-poderoso, imortal, qualidades essas intrínsecas a uma divindade) os fiéis devem ser também ricos. Tal riqueza se dá, segundo Macedo, através da herança paterna e pela posse desse direito. O fiel deve se apossar da riqueza oriunda de Deus, cobrando-o sobre as promessas bíblicas que versam sobre prosperidade. Porém, ao cobrar uma atitude de Deus e exigir uma bênção (no caso, prosperidade financeira), o fiel se coloca numa atitude contrária de submissão e contemplação perante a divindade, passando a ter autoridade sobre Deus ao ponto de lhe dar ordens e exigir cumprimento de promessas constantes na Bíblia, feitas em outro contexto histórico e muitas vezes dirigidas a personagens e nações específicas, como por exemplo o povo judeu.
Você tem que chegar e se impor. Ó, pessoal, você vai ajudar agora na obra de Deus. Se você quiser ajudar, bem; se você não quiser ajudar, Deus vai me dar outra pessoa pra ajudar. Amém. Entendeu como é? Se quiser ajudar, bem; se não quiser, que se dane! É dá ou desce! Entendeu como é que é? Nunca pode ter vergonha ou timidez. Peça, peça, peça. Se tem um que não dê, vai ter um montão que vai dar. (BLEDSOE, 2012, p. 68)
Esse discurso foi proferido pelo Bispo Edir Macedo e dirigido a um grupo de pastores da IURD, e denota o modus operandi dos pregadores de igrejas neopentecostais no que tange aos pedidos de dízimos e ofertas.
O pastor precisa chegar e se impor. Precisa, pela postura, atitudes e tonalidade de voz se colocar num patamar mais alto que seus ouvintes, demonstrando autoridade sobre a plateia. E precisa ser imperativo, direto: “você vai ajudar agora na obra de Deus”.
Uma das estratégias ensinadas por Macedo a seus pupilos é a de desmerecer os fiéis. Ninguém é muito importante, pois nenhuma oferta individual é importante: “se você quiser ajudar, bem; se você não quiser ajudar, Deus vai me dar outra pessoa pra ajudar”. O importante é o conjunto de ofertas. Assim, o pastor deve não se fixar em convencer alguma pessoa individualmente, mas a maior parte da plateia. Isso também significa que, se alguém não quiser ofertar e assim receber as bênçãos prometidas pelos pastores, Deus levantará outros que doarão e serão por isso abençoados.
“Se não quiser [dar a oferta], que se dane! É dá ou desce!” – Na estratégia das igrejas neopentecostais, o fiel tem duas opções: ou dá a oferta solicitada e se coloca em posição de receber bênçãos, ou não dá a oferta e se torna apto a toda sorte de tribulações. Utilizando-se da chula e machista metáfora popular, ou dá e permanece com a carona para casa, ou desce do carro e percorre o resto do caminho a pé, sob perigos.
É também parte da estratégia a grande ênfase na pregação de ofertas e dízimos. Os pastores das igrejas neopentecostais precisam pedir, pedir, pedir sem vergonha ou timidez. A repetição é uma forma de influenciar as pessoas para que ajam conforme as instruções do locutor.
Os dízimos e as ofertas são tão sagrados e tão santos quanto a Palavra de Deus. Os dízimos significam fidelidade, e as ofertas, o amor do servo para com o Senhor. Não se pode dissociar os dízimos e as ofertas, o amor do servo para com o Senhor Jesus, uma vez que eles significam, na verdade, o sangue daqueles que foram salvos em favor daqueles que precisam ser salvos. (BLEDSOE, 2012, p. 151)
Aqui o Bispo Edir Macedo mistifica o ato de doação de dízimos e ofertas. Não apenas mistifica, mas compara a oferta aos escritos bíblicos, considerados pelos fiéis como a Palavra de Deus e fundamentais para a formação da doutrina cristã.
Nesse discurso, Macedo faz algumas comparações. O dízimo e as ofertas são comparados, em grau de importância, à Bíblia e ao amor do fiel a Jesus Cristo. Assim, quem ama a Deus precisa necessariamente demonstrar esse amor através da doação de recursos financeiros às igrejas neopentecostais. Esses recursos, segundo o discurso em estudo, são como um sacrifício de sangue, de morte, em prol da evangelização de novos crentes, que passariam a ter vida espiritual. Para muitos, especialmente os fiéis de menor renda, o ato de generosidade direcionado à igreja equivale, muitas vezes, a um grande sacrifício pessoal.

Nesse discurso, o Pastor Silas Malafaia (ADVEC) se dirige enfática e agressivamente à sua plateia. A ênfase é ensinar como o crente pode prosperar, e para isso compara a liberação de bênçãos materiais a uma colheita. De forma didática, Malafaia leva o fiel a entender que não se deve ofertar ou dizimar sem esperar nada em troca. Para o pastor, isso é um grande erro.
Com uma linguagem bastante popular, Malafaia chama as pessoas que aparentam grande santidade (por fazer doações apenas por amor à obra de Deus) de “trouxas”. Para maior destaque, repete o termo algumas vezes, de forma a ridicularizar perante a plateia aqueles que ofertam sem seguir seus ensinos.
O objetivo desse discurso é obviamente aumentar a arrecadação financeira. Os que Malafaia chama de “super santos” já ofertam por convicção própria. Os demais precisam de um incentivo para melhor ofertar, e esse incentivo é a promessa vinda do “representante de Deus” de que, mais cedo ou mais tarde, a recompensa financeira chegará ao fiel. Afinal, o que o “representante” traz é a palavra vinda do próprio Deus, e por isso merece todo o crédito dos ouvintes.

O autointitulado[2] Apóstolo Agenor Duque, da IAPTD (pois há uma controvérsia sobre a aceitação do título de apóstolo nas igrejas evangélicas nos dias atuais)[3], assim como o Pastor Silas Malafaia, dirige-se aos seus ouvintes de forma bastante popular, numa tentativa de se mostrar próximo. Essa proximidade traz também uma certa intimidade e confiança, imprescindíveis para o maior sucesso dos discursos que profere.
O discurso em estudo foi realizado durante um programa de rádio (embora também gravado em vídeo). Pela falta da percepção visual, a informação, nesse caso, precisa ser “simples e caracterizada pela repetição de conceitos de modo a que o ouvinte possa assimilar a ideia que se pretende comunicar. […] isto para que o ouvinte não se sinta forçado a esforços superiores à sua compreensão normal”, segundo Amaral (sem data)[4].
O Apóstolo Agenor Duque inicia seu discurso com uma parábola. Conta uma história bíblica contida no Antigo Testamento (livro de Gênesis, capítulo 41)[5], e a compara com a atual realidade vivida pelos fiéis. Assim como na história do faraó e de José do Egito, atualmente os fiéis passam necessidades por conta da crise econômica e política que afeta o Brasil[6]. E, segundo Duque, a solução da crise está em obedecer às instruções divinas recebidas pelo autointitulado apóstolo.
Objetivando influenciar os ouvintes, o Apóstolo Agenor Duque se coloca numa posição duplamente superior: primeiro, por ser o “representante de Deus”, sendo sua palavra um mandamento da própria divindade; e em segundo lugar, colocando-se como alguém altamente capacitado para pronunciar tal discurso, diante de uma plateia de ignorantes.
Para melhor caracterizar seu grau de capacitação, Duque relata que é autor de um livro sobre o assunto (vencer a crise), cita o dicionário Aurélio e a ciência matemática e coloca o ouvinte numa posição claramente inferior em termos de conhecimento bíblico: “pra tentar iluminar a sua mente e fazer você, que não tem muito entendimento, entender”. Ao citar a passagem bíblica do início do discurso, Duque não a referencia (Gênesis 41), pois não importa que o fiel vá comprovar a informação, apenas que atenda obedientemente à instrução de tão culto homem de Deus. Assim, perpetua-se a condição de ignorância dos fiéis e a posição supostamente superior, em termos de conhecimento bíblico, do apóstolo, demarcando claramente quem deve obedecer a quem.
De forma didática e impaciente (“pela última vez: é vinte por cento”), Duque explica ao ouvinte o que Deus lhe requer para tirá-lo da situação de crise. Mesmo que pertença a outra igreja, a oferta deve ser entregue na IAPTD. E precisa ser vinte por cento dos ganhos do fiel. Tão específicas instruções remetem a simpatias e rituais de magia, também justificadas como vontade de Deus (ou deuses), segundo as religiões que as praticam.

A Bispa Sônia Hernandes (Renascer Em Cristo) apela para a vaidade dos seus ouvintes. Assim como sua igreja aceita pessoas de todas as tribos e gostos, essas pessoas precisam retribuir aceitando a forma como a Renascer prega sobre prosperidade financeira. E Hernandes justifica que o puritanismo não é imprescindível para se agradar a Deus, atendendo a uma premissa da Teologia da Prosperidade.
2.3 – Discurso de doutrina
Nesse subitem será feita a análise do discurso de igrejas neopentecostais sobre sua doutrina.

O Bispo Edir Macedo (IURD) traz um paradoxo aos fiéis: ao mesmo tempo em que o Espírito Santo dirigiu a escrita da Bíblia, esses escritos só podem ser interpretados pelo próprio Espírito Santo de Deus (embora haja traduções para diversas línguas, inclusive o português). O conhecimento teológico, para Macedo, tem pouco ou nenhum valor, pois o bispo acredita que tal conhecimento traz embutida a vaidade e a independência de Deus. A verdadeira dependência, segundo Macedo, está em deixar de lado os conhecimentos bíblicos adquiridos e obter diretamente de Deus a interpretação dos textos sagrados.
Ao se lembrar que o sacerdote é quem detém a representação de Deus, nesse discurso temos a instrução para que o ouvinte passe a depender do “representante de Deus” para a correta interpretação das Escrituras. Dessa forma, nas igrejas neopentecostais a palavra final sobre os escritos bíblicos sempre será a dada pelos líderes eclesiásticos, independente se o significado encontrado está de acordo ou não com os contextos. O estudo da palavra de Deus será desprezado por denotar independência das revelações divinas.
Muitos cristãos vivem pedindo oração porque estão sendo perseguidos pelo diabo. É de estarrecer, porque a realidade deveria ser outra. Os cristãos é que devem perseguir os demônios. Nossa luta é muito mais de combate do que de defesa; devemos nos armar de toda a armadura de Deus para libertar os oprimidos. A igreja deve ser triunfante e estar sempre na ofensiva. (MACEDO apud MARIANO, 2014, p. 122)
Uma das premissas das igrejas neopentecostais é a ênfase na Batalha Espiritual. Para o Bispo Edir Macedo, o cristão precisa reconhecer sua autoridade diante dos demônios e expulsá-los, não dependendo de orações de outras pessoas. Isso traz embutida a diminuição do trabalho pastoral, caso os fiéis deixem de demandar cuidados espirituais. Além disso, a imagem de uma igreja sempre triunfante é perfeita para os ideais da Teologia da Prosperidade, pois significa a vitória em todas as áreas, inclusive e especialmente a financeira (mote da propaganda das igrejas neopentecostais).

O autointitulado Apóstolo Agenor Duque (IAPTD) desferiu esse discurso olhando diretamente para a câmera e apontando para um inimigo anônimo, que no contexto pode ser qualquer pessoa que lhe faça uma crítica.
Logo no início, Duque aciona a Deus para que julgue entre ele e a pessoa a qual se dirige. Em sua defesa, Duque alega ser um ungido de Deus e um não marginalizado. Como ungido e homem de Deus, o apóstolo se considera acima dos demais. Afinal, tem uma conexão direta com Deus, para quem apela no sentido de dar a sentença final: ou o apóstolo morre, ou a ira do Senhor recairá sobre a pessoa a quem se dirige.
No final, Deus dá o veredicto: “diz o Senhor: você está amaldiçoado agora!”. Tal discurso objetiva levar o ouvinte a um abalo psicológico, caso julgue que Deus o está mesmo amaldiçoando. Tal abalo o levará a crer que qualquer contrariedade em sua vida possa advir de tal maldição[7].

Nesse discurso, o Pastor Silas Malafaia (ADVEC) discorre sobre a visão do ungido do Senhor seguida pelas igrejas neopentecostais.
Para Malafaia, não cabe a ninguém julgar um “ungido do Senhor”, um representante de Deus na terra, um líder religioso. Pode-se julgar trabalhadores, empresários, políticos, até mesmo juízes, porém nunca, em hipótese alguma, um “ungido do Senhor”. A paga para quem incorre nesse erro, segundo o pastor, é a pena de morte advinda do próprio Deus.
Para aproximar o discurso dos fiéis, Malafaia recorre a repetições e a histórias que diz conhecer. No final, o pastor se coloca com um dos ungidos a não serem tocados: “Se ele vir contra mim, ele vai perecer. Se ele vir contra mim, Deus vai tirar a vida dele”.
Essa é uma versão indireta do discurso estudado anteriormente. Enquanto Agenor Duque lança sua maldição diretamente para o ouvinte, Malafaia o faz de forma indireta, mais cuidadosa, menos agressiva, porém bastante enfática.
A imposição do medo sobre os fiéis (para que sigam cegamente seus líderes eclesiásticos) é uma das estratégias das igrejas neopentecostais.

Esse discurso do autointitulado Apóstolo Agenor Duque também foi transmitido por rádio e gravado em vídeo. Quando da fala da mulher, Duque modifica sua voz para um tom mais grave e com sotaque nordestino, objetivando ridicularizar a fala de sua oponente diante dos ouvintes. Assim, mais uma vez se coloca como alguém superior aos demais não apenas por sua unção, mas também por seu suposto conhecimento bíblico e agora por sua origem paulistana[8].
Impressiona também a reação do apóstolo diante de sua oponente. Enquanto a mulher, segundo a imitação do apóstolo, falava de forma lenta, sua reação foi enérgica e agressiva, acusando-a de mentirosa em tom alto e na frente de todos da repartição pública, beirando um ataque de loucura.
Duque não revela como tudo terminou, mas fica subentendido que, por ser homem, de grande porte físico e um suposto ungido de Deus, tenha conseguido anular a mulher, que não deve ter esboçado nenhuma outra reação.
Como de costume, utiliza-se de linguagem bastante popular. E traz um paradoxo: a igreja séria de Deus, para o apóstolo, não é a que prega a salvação, mas a que prega bênção, vitória e milagres. Porém, tais manifestações existem para fortalecer a fé e levar o público à conversão a Cristo, obtendo, segundo a fé cristã, a salvação de suas almas[9].
A explicação de tal paradoxo é que o objetivo das igrejas neopentecostais, através das manifestações de milagres, é a de aumentar o público e consequentemente a arrecadação de dízimos e ofertas. A salvação, essa é deixada para o outro plano.
A forma como foi expresso o discurso dá a impressão de que o Apóstolo Agenor Duque se orgulha do que ocorreu. Afinal, de forma subentendida conseguiu calar uma adversária.
[1] GREGOLIN, Maria do Rosario Valencise. A análise do discurso: conceitos e aplicações. Disponível em: <http://seer.fclar.unesp.br/alfa/article/viewFile/3967/3642>. Acesso em: 16 Abr.2016.
[2] Revista Época. Apóstolo emergente das igrejas neopentecostais promete apagar a memória dos fiéis. Disponível em: <http://epoca.globo.com/vida/noticia/2015/12/apostolo-emergente-das-igrejas-neopentecostais-promete-apagar-memoria-dos-fieis.html>. Acesso em: 21 Abr. 2016.
[3] LOPES. Augustus Nicodemus. Apóstolos: a verdade bíblica sobre o apostolado. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2014.
[4] AMARAL, Catarina. Características da rádio. Disponível em: <http://www.ipv.pt/forumedia/4/16.htm>. Acesso em: 21 Abr.2016.
[5] Bíblia de Jerusalém. Nova edição, revista e ampliada. São Paulo: Editora Paulus, 2006.
[6] Estadão. Entrevista: Teresa Ter-Minassian. Disponível em: <http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-nao-sai-da-crise-economica-se-nao-resolver-a-crise-politica,10000023324>. Acesso em: 21 Abr.2016.
[7] Hype Science. Use psicologia para fazer suas maldições funcionarem. Disponível em: < http://hypescience.com/use-psicologia-para-fazer-suas-maldicoes-funcionarem/>. Acesso em: 21 Abr.2016.
[8] Revista Época. Apóstolo emergente das igrejas neopentecostais promete apagar a memória dos fiéis. Disponível em: <http://epoca.globo.com/vida/noticia/2015/12/apostolo-emergente-das-igrejas-neopentecostais-promete-apagar-memoria-dos-fieis.html>. Acesso em: 21 Abr. 2016.
[9] PIPER, John. Sinais e maravilhas: antes e agora. Disponível em: <http://www.desiringgod.org/articles/signs-and-wonders-then-and-now?lang=pt>. Acesso em: 21 Abr. 2016.
Por: Vera Siqueira:
https://estrangeira.wordpress.com
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