Hoje, celebramos os 500 anos da Reforma Protestante. Esse grande avivamento na Igreja de Cristo, iniciado pelo monge alemão Martinho Lutero, mudaria não apenas o Cristianismo, mas toda a história da civilização ocidental. Eu poderia dizer muita coisa sobre o assunto, mas como sou um inveterado pessimista (como bem conhecem os mais próximos), falarei sobre a violação sistemática que igrejas ditas protestantes (ou evangélicas) cometem contra os cinco grandes princípios da Reforma, inteiramente baseados nas Escrituras e fielmente apregoados pelos grandes teólogos protestantes ortodoxos dos últimos cinco séculos. Muitos crentes vivem sendo guiados por supostas revelações, estão tomados pelo medo de perder a salvação (como Lutero antes de conhecer a graça de Deus) e idolatram homens (como os leigos ignorantes de sua época faziam). Vejamos os cinco pontos e as violações cometidas:
SOLA GRATIA – SOMENTE A GRAÇA
O que significa? Que somos salvos apenas pela graça de Deus, não tendo méritos ou qualidades em nós mesmos.
TEXTO BÍBLICO:
"Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)"Efésios 2:5
Um dos grandes líderes da teologia da prosperidade afirma em uma de suas obras que todo homem merece ser salvo. Mesmo em meio aos arraiais conservadores, é comum a velha crença de que o homem, por si é bom. Assim sendo, a importante doutrina do pecado original, outrora vigorosamente defendida por Agostinho, é totalmente esquecida. Já vi pregadores pentecostais afirmarem que as crianças nascem totalmente puras (Sl 51.5).
Na verdade, as Escrituras dizem que todos pecaram (I Re 8.46; Rm 5.12), que, por natureza, estamos mortos no pecado (Ef 2.1; Cl 2.13), somos inimigos de Deus (Cl 1.21), e com nossos juízos corrompidos pelo mal (Is 64.6). Quando nossos pais caíram no Éden (Gn 3), todos nós caímos. Mas para que ninguém diga que Deus é injusto ao condenar-nos por pecados cometidos num tempo antiquíssimo por um casal, sabemos que, a cada dia, juntamos a este pecado original uma multidão de pecados pessoais, que nos fazem dignos da morte eterna. Assim sendo, o homem é mal, e totalmente depravado. Não no sentido de que faça todo o mal imaginável, mas porque todas as áreas de sua vida estão corrompidas pelo pecado.
Lancemos fora de nosso meio esse evangelho "light" que diz que o homem é bom (Gn 8.21), que pode por suas próprias forças vir à Deus (Jr 13.23). Essa heresia, chamada de pelagianismo, já foi refutada por Agostinho a mil e seiscentos anos. E os reformadores foram enfáticos em condenar suas premissas.
SOLA FIDE- SOMENTE A FÉ
O que significa? Que somos salvos ao depositar totalmente nossa confiança em Cristo, de forma verdadeira, e não por nossas boas obras ou cumprimento da lei.
"Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei".( Romanos 3:28)
Essa doutrina é frequentemente violada nos púlpitos das igrejas brasileiras, principalmente pentecostais e neopentecostais. A principal queixa de Lutero contra a Igreja medieval residia no fato de que esta havia se tornado uma religião de méritos. Apregoava que a salvação vem, sim, primeiramente da graça de Deus, mas que devemos conservá-la por nossa obediência e boas obras. Para mim, tudo aquilo que nós protestantes consideramos errado na Igreja de Roma tem origem nessa meritocracia. Ora, é óbvio que, se a fé em Cristo não me basta, tenho que me apoiar em vários pilares para garantir a minha salvação: a hierarquia da igreja, aqueles que foram mais fiéis do que eu em vida , os corpos destes santos, objetos ungidos, e todo excesso sacramental e eclesiológico da Igreja Romana.
O herege Edir Macedo é um claro exemplo de pastor (pastor?) que nega a "sola fide". Recentemente, afirmou que a salvação pela graça, mediante a fé (Ef 2.8), é uma doutrina diabólica. Ele já dava mostras de ser um semipelagiano em vários artigos que escreveu. Muitos pastores afirmam que somos salvos apenas se tivermos uma perfeita obediência. Assim, se cometermos alguns "pecados" (como jogar videogame, torcer para um time de futebol, ir à praia,etc.), perdemos a salvação. Ora, isso é a meritocracia de Roma levada ao extremo. Ao menos em Roma, os fiéis tem a hipótese da purificação no fogo do purgatório caso morram em algum pecado não muito grave. Mas em nossas igrejas, infelizmente, em minha denominação, muitos pastores não dão a mínima chance para quem cai em pecados (que, muitas vezes, nem pecados são!). A doutrina da salvação pela fé apenas nos garante que a manutenção de nossa salvação não está em nossas frágeis mãos, mas no cuidado divino (Fp 2.13; Rm 8.30-39; Jo 10.28,29; Fp 1.6). Nenhum de nós tem capacidade para cumprir plenamente os mandamentos de Deus. A obediência de Cristo cobre a nossa desobediência. Não perderemos a salvação por cometer qualquer erro. Devemos, sim, ser obedientes aos mandamentos, mas por amor à Deus e ao próximo, e não por medo de perder a salvação.
SOLA SCRIPTURA - SOMENTE A ESCRITURA
O que significa? Que as Escrituras inspiradas (os 39 livros do Antigo e os 27 do Novo Testamento) devem ser a única fonte de doutrina, prática e dogmas cristãos.
TEXTO BÍBLICO:
"Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas eram assim (At 17.11)
As Escrituras são a nossa única regra de fé. Apesar de andarem de um lado para o outro com a Bíblia debaixo do braço, muitos evangélicos colocam ao lado dela, como regras de fé, a tradição de sua denominação e supostas revelações e profecias que ouvem na igreja. Eu creio que o dom de profecia, revelações e coisas do tipo ainda existem em nossos dias (I Co 12), mas jamais podem ser colocadas ao lado da Bíblia para se estabelecer uma crença. Algumas vezes, essas "revelações" e "ensinamentos celestiais" são absurdos, negando doutrinas importantes. Podemos ouvir coisas como: "Deus falou pro irmão fulano que mulher que corta cabelo não vai para o céu" (negação da sola fide); "O irmão tal teve uma visão de que o missionário sicrano é quem vai chamar os nomes daqueles que entrarão no céu" (negação do solus Christus); e outras aberrações teológicas deste naipe. As regras, catecismos, usos e costumes de nossas igrejas devem passar pelo critério da confirmação bíblica. A mesma coisa com supostas revelações.
Outro ponto que merece destaque é o fato de que muitos pastores distorcem as Escrituras para provar suas teses. Houve o caso de um documento de certa igreja afirmar que os irmãos não poderiam usar barba pelo fato de que José se barbeou para ir à presença de Faraó(!). As Escrituras necessitam de ferramentas interpretativas, e é muito importante para o cristão (especialmente para os obreiros) conhecerem essas ferramentas através da teologia.
SOLUS CHRISTUS- SOMENTE CRISTO
O que significa? Que apenas Cristo pode conduzir o homem a Deus, e que a teologia cristã deve girar em torno de sua pessoa e obra.
TEXTO BÌBLICO:
"Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem". (ITimóteo 2:5)
Os evangélicos costumam criticar duramente os católicos por colocarem Maria e os santos mortos como mediadores ao lado de Cristo. Vivem gritando por todos os cantos a passagem da epístola paulina, de que há um só Mediador entre Deus e os homens, Mas, na prática, muitos deles praticam uma obediência cega a seus líderes, dizendo que perderão a salvação caso não o fizerem, que o líder é o ungido de Deus, tendo uma relação especial com o Senhor, por isso devem se colocar sob a"cobertura espiritual" do bispo ou apóstolo. Conforme o exemplo que eu citei no ponto anterior, em certa igreja pentecostal alguém teve a revelação de que seria seu líder quem chamaria os nomes dos que entrarão no céu. Em outro caso, um membro de uma igreja neopentecostal afirmou que o apóstolo beltrano é o enviado de Deus para nos salvar. Além de colocarem homens mortais entre eles mesmos e Deus, muitos evangélicos criam toda uma superstição em relação a objetos ungidos (água, rosas, sabonetes,etc.) como meios de graça e da benção divina.
SOLI DEO GLORIA- GLÓRIA SOMENTE A DEUS
O que significa? Que devemos fazer tudo para a glória de Deus, e que apenas Ele é digno de louvor supremo, adoração e obediência irrestrita.
TEXTO BÍBLICO:
"Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus"(I Co 10.31)
A Bíblia nos diz que toda a glória pertence a Deus, e que devemos fazer tudo para a sua glória. Mas o que vemos em nosso meio é que muita coisa é feita para a glória do homem. Geralmente, aqueles que violam o "soli Deo gloria" são os mesmos que violam o "solus Christus". Assim sendo, as pessoas seguem toda sorte de orientação espúria de seus líderes (Jr 29.9; At 5.29), e acabam fazendo a obra para eles, e não para Deus. Desprezando o sábio conselho de João Batista (Jo 3.30), esses líderes querem aparecer, como outrora o mago Simão (At 8.9). Tenho a impressão de que muitas igrejas neopentecostais, quando seus líderes morrerem, acabarão, pois a tanta ênfase em suas figuras, que eles se tornam o núcleo em torno do qual se aglutinam seus fiéis.
Portanto, vemos que muitas das igrejas ditas "protestantes", precisam resgatar os princípios da Reforma, a fim de pregar ao mundo o verdadeiro e puro Evangelho de Cristo. As igrejas de hoje vivem impondo medo nos fiéis com ameaças de perdição eterna para aqueles que não cumprirem os mandamentos humanos e terrenos de seus líderes, muitas vezes baseados em supostas revelações e num uso distorcido das Escrituras. Precisamos urgentemente de uma Reforma, pois essas igrejas estão no mesmo buraco (ou ainda mais fundo) do que a Igreja Católica Romana do século XV.


O que dizer de uma igreja como a nossa, onde se vendem as bênçãos materiais e celestiais (uma venda de perdão de pecados mascarada, uma vez que se o fiel recebe as bênçãos pelas quais pagou prova que é “santo”, e por isso perdoado dos pecados)? O que dizer de uma igreja onde se proíbe “andar no mundo”, mas que replica o “mundo” para satisfazer a seus fiéis (festas sincréticas gospel, rituais de espiritismo gospel, idolatria gospel)? O que dizer de uma igreja que faz clara acepção de pessoas, tratando-as conforme o valor do seu dízimo e segundo o status que ocupa na sociedade? O que dizer de uma igreja na qual seus líderes se acham no direito de usurpar e usufruir das ofertas que deveriam ser destinadas à manutenção do templo e ao cuidado dos mais necessitados? O que dizer de uma igreja que deixa de confiar em Deus para confiar na força de políticos, por mais corruptos que eles sejam?
Sim, as igrejas brasileiras em sua grande parte servem a outro deus: a Mamom, ao dinheiro, que é o deus deste século. Vivem para e pelo dinheiro. Em seu credo, de forma escondida, pregam que tudo vem dele (do dinheiro), é por ele e é para ele. Oramos para ter dinheiro, precisamos de dinheiro para a evangelização e para a satisfação de nossos desejos mais ocultos, sem dinheiro não somos ninguém nessa sociedade desigual e o dinheiro tornou-se o termômetro de quão espiritual somos (quanto mais dinheiro, mais Deus abriu as comportas do céu e por conseguinte mais somos ungidos e espirituais). O que temos visto em boa parte das igrejas, as falsas promessas e profecias para aumentar a arrecadação de ofertas e a péssima destinação dessas nos mostra claramente a quem temos verdadeiramente servido. Quando precisamos nos aliar politicamente com o que há de mais sujo para conseguir “evangelizar”, mas na verdade para conseguir benefícios e até dinheiro, mostramos que nossa fé não está na provisão de Deus, mas no deus que temos servido.
Há 2 anos, surgiam as primeiras denúncias contra o então deputado Eduardo Cunha. Além de presidente da Câmara dos Deputados, esse dito também era evangélico, dizimista e ofertante na Assembleia de Deus do Brás Ministério Madureira (ADBras). Era convidado de honra nos palcos das Marchas para Jesus, principalmente no Rio, ao lado de aliados e até então fiéis defensores, como Silas Malafaia.
Eduardo Cunha continua em silêncio, mas seu parceiro operacional no PMDB resolveu falar. Lúcio Funaro fez a delação e dias atrás foram divulgadas as gravações. Incriminou, na delação, todos os caciques do PMDB, citando inclusive o presidente Michel Temer. Apesar de horrível, tudo isso já era esperado. Mas o que mais intriga, e que é o cerne deste artigo, são os trechos a seguir:
Encontrar-se numa igreja evangélica não tem nenhum problema. Porém, a cúpula do PMDB foi a uma igreja não para um culto, mas para uma “reunião de apoio” a um candidato a prefeito de São Paulo, o católico Gabriel Chalita. Ou seja, era um evento especial, fechado, com o objetivo puramente político. E com o aval dos papas dessa igreja.
Enfim, Eduardo Cunha é (ou era) membro da igreja certinha para seu (falso) caráter cristão.
As igrejas já possuem isenções fiscais, por seu caráter de entidade sem fins lucrativos (para muitas, pelo menos em tese, não na prática). Além disso, o Brasil passa por um dos mais difíceis períodos de sua história econômica, com altos índices de desemprego, grandes quedas na produção e com os entes da União sem caixa para tratar das mínimas questões. O Estado do Rio de Janeiro amargou falta de dinheiro até para o pagamento de aposentados e servidores ativos. Não há como arcar com os gastos para a segurança, saúde, moradia, educação nas mais diversas regiões do país.




“Sabemos que aquele que nasceu de Deus não peca; mas o que é gerado de Deus se acautela, e o Maligno não o toca.
